08/07/09

quis matar saudades, saudades não matei

Hoje lembrei-me dum ritual que tínhamos os dois.
Era só nosso e alarguei-o com incontida alegria à minha menina.
Passei num local aqui próximo onde, como em tantos lugares por esse país fora, se festeja um santo ou santa qualquer. Não interessa qual era , mas não era o nosso santo.
Mas tinha barracas de farturas, de pão com chouriço, algodão doce e música popular(agora até a música é mais pobre).
Pára, pára ali que eu quero comer uma fartura quentinha com muiiita canela e açúcar!
Espanto generalizado:Farturas? Tu?
Sim, eu, tu e a minha menina tínhamos um ritual e eu hoje quis matar saudades de ti, especialmente de ti que resolveste partir tão cedo da minha vida.
As farturas não tinham o sabor fantástico de então, não havia vinho 3 Marias( foleiro, foleiro, mas que fresquinho sempre me soube a champanhe francês), aliás nem havia nenhum vinho.
Só cerveja, refrigerantes e afins.
Não desisti. Precisava de matar saudades tuas e sentei-me numa improvisada esplanada, pedi 2 farturas quentinhas com muito açúcar e canela e, teve de ser, uma cerveja.
Não foi aquilo que ansiei. Não consegui matar saudades tuas.
Aliás, eu acho que nunca vou conseguir matar as saudades das coisas boas, alegres e impagáveis que fizeste comigo. E mais tarde com a tua neta.
Saudades não se matam, conclui.
E senti ainda mais saudades tuas e de mim, naquele tempo em que ser feliz era tão fácil.


Março 1940-Julho 2002

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