
O galo é o dono da casa
a galinha, da cozinha
ou se porta direitinha
ou apanha com a asa
que o galo é o dono da casa
O galo canta de galo
a galinha cacareja
e o pintainho deseja
o fim de tanto badalo
e o galo canta de galo
O galo come faisão
a galinha é quem o assa
e o pobre do pinto passa
passa uma fome de cão
e o galo come faisão
O galo é o dono dos ovos
a galinha é quem os bota
e o pinto é compatriota
da miséria de outros povos
que o galo é o dono dos ovos
Por mais que cante de galo
o galo está a dar o berro
é que nem com mão de ferro
faz do pinto seu vassalo
por mais que cante de galo
Anda amarelado o galo
como a gema que o pariu
o sol nunca lhe sorriu
quanto ao pinto é um regalo
não há sol que não o tisne
o galo canta de galo
para o pinto é canto do cisne.
Sérgio Godinho
ps- hoje, enquanto tomava o café quase vespertino, entrou na pastelaria um cavalheiro com uma rosa vermelha na mão. Dirigiu-se à mesa onde o esperava uma mulher, jovem, bem jovem. Sorriu e remexeu-se, inquieta na cadeira. Abanou a mesa e as chávenas. Eu virei-me. E vi. O cavalheiro entregou-lhe a rosa, vermelha, e disse em alta voz: Hoje é o teu dia! Numa mulher nem com uma flor se deve bater. Riu-se. E ela também. Todos esboçaram sorrisos, mais abertos, menos abertos. Eu saí. Furiosa!
Arrependo-me de não ter falado. Nem uma palavra me chegou ao aparelho fonador...
1 comentário:
O típico. A banalização das coisas até as tornar sem sentido.
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