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Eu sei, não te conheço, mas existes.
Por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.
(...)
Eu sei, não digas nada, deixa-me inventar-te.
Não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos sobre
a tua nudez
como uma somba no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira
de habitares
em todas as palavras do meu canto.
Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
Tenho feito amor de muitas maneiras
docemente.
lentamente.
desesperadamente,
à tua procura, sempre à tua procura
até me dar conta que estás em mim, que é em mim que devo
procurar-te
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
poque é a ti
que eu amo.
in Joaquim Pessoa "125 poemas-Antologia Poética"
3 comentários:
Um fascinante poema. Parabéns pelo gosto refinado e a sensibildade amorosa.
Oscar Luiz
Obrigada pela sua apreciação. É bom saber que do outro lado de um imenso oceano há alguém que aprecia boa poesia!
Outro (Manuel Alegre) escrevia que 'é assim como uma queda, uma vertigem, até ao centro da terra'...
Abraço.
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