01/07/07

dos Outros Escritores em português

"Chinita abre os olhos e a primeira imagem que lhe vem à memória se
relaciona com aquela tarde inesquecível. Debaixo das cobertas quentes
como
que tornou a sentir de novo as carícias reveladoras de Salu.
Já não há mais lugar para remorsos, para escrúpulos, para cuidados.
Porque ela conhece o gozo misterioso de cuja existência sabia por intuição.
Agora Chinita só pode desejar a repetição daquele instante agitado e bom.
A tira de sol que entra pela fresta da janela se estende até a cama.
A manhã deve estar linda. Chinita toca a campainha. A criada aparece.
Ela pede:
- Chocolate.
A criada torna a sair. Chinita se espreguiça. Um bocejo cantado.
Outra vez é Joan Crawford. O seu mundo do cinema renasce.
O resto, que importa?
Salu já lhe fez a grande revelação. E ela tem a impressão de ouvir as suas
palavras: A vida é curta, a gente morre mesmo. Por que não aproveitar?
Deixa de bobagem!
E a vida acaba mesmo.
Chinita fica pensando em Salu. Quando será que vai vê-lo de novo?
Se fossem casados... Mas não. Casamento é tolice.
Primeiros meses, aquela fúria - como ele explicou.
Depois - aborrecimento, frieza. Tudo fica visto, igual, repetido.
Ao passo que dois amantes (apesar da palavra feia - amante) podem continuar
a achar sempre no amor uma coisa gostosa, proibida, esquisita.
Os minutos passam. A criada entra com o chocolate.
- Que tal está o dia?
- Lindo.
Quando a mulata torna a sair Chinita fica pensando:
Será que ela já experimentou também aquele gozo proibido?"

in Erico Veríssimo-"Caminhos Cruzados"

1 comentário:

jorge esteves disse...

Já que se falou em... luxurias, até calha. O chocolate, claro!...
Abraço.


passearam no meu país...

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