31/12/07
29/12/07
28/12/07
Rimbaud-O príncipe-poeta ex-traficante de armas!
Antigamente, se bem me lembro, minha vida era um festim no qual todos os corações exultavam, no qual corriam todos os vinhos.Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. E achei-a amarga. E injuriei-a.Armei-me contra a justiça.Fugi. Ó feiticeiras, ó miséria, ó ódio, a vós é que foi confiado o meu tesouro!Tudo fiz para que se desvanecesse em meu espírito a esperança humana.Como um animal feroz, investi cegamente contra a alegria para estrangulá-la.Conjurei os verdugos para morder, na minha agonia, a culatra de seus fuzis.Conjurei as pragas, para afogar-me na areia, no sangue. Fiz da desgraça a minha divindade. Refocilei na lama. Enxuguei-me ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura.E a primavera trouxe-me o horrível gargalhar do idiota. Ora, por último,chegando a ponto de quase fazer o trejeito final, sonhei encontrar a chave do festim antigo, no qual talvez recobraria o apetite.A caridade é essa chave. - Esta inspiração prova que tenho sonhado!"Sempre serás hiena, etc..." exclama o demônio que me coroou de tão amáveis papoulas. "Vence a morte com todos os teus apetites, com todo o teu egoísmo e todos os pecados capitais". Ah! estou farto de tudo isso: - Mas, querido Satã, eu te conjuro a que não me fites com pupila tão irritada! e à espera das pequenas covardias atrasadas, para vós outros que admirais no escritor a ausência das faculdades descritivas ou pedagógicas, para vós arranco algumas hediondas páginas do meu caderno de condenado. Mau Sangue Herdo de meus antepassados, os gauleses, os olhos azuis-claros, a fronte estreita, e a falta de jeito para a luta. Sinto que minhas roupas são tão bárbaras quanto as deles. Apenas não unto a cabeleira.Os Gauleses foram esfoladores de animais, queimadores de ervas, os mais inábeis de seu tempo. Deles, eu herdo: a idolatria e o amor ao sacrilégio; - oh! todos os vícios: cólera, luxúria, - magnífica, a luxúria; - sobretudo mentira e preguiça.Detesto todas as profissões. Mestres e oficiais, todos campônios,ignaros. A mão que empunha a pena equivale à que guia o arado. -Que século de mãos! - Jamais me servirei das mãos! Depois, a domesticidade leva demasiado longe. A honradez da mendicidade exaspera-me. Os criminosos repugnam-me como castrados: quanto a mim, estou intacto, e pouco se me dá.Mas quem fez tão pérfida a minha língua que, até agora, tem guiado e protegido a minha preguiça? Sem saber utilizar-me do corpo, e mais ocioso que um sapo, tenho vivido por toda a parte. Não há família na Europa que eu não conheça: - Estou falando de famílias iguais à minha, que devem tudo à declaração dos Direitos do Homem – Tenho conhecido cada filho-família!
Artur Rimbaud- "Uma estação no Inferno"
20/12/07
15/12/07
02/12/07
30/11/07
22/11/07
18/11/07
...do (sem) sentido do amor
valter hugo mãe in "o remorso de baltazar serapião"
14/11/07
Já tive a rosa do amor
- rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...
Cecília Meireles
09/11/07
07/11/07
...poesia de amor(es)
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caídos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
sentem que as olho, que admiro os seus gestos
lentos, que amo o trabalho subterrâneo
do tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar.
Nuno Júdice
06/11/07
28/10/07
...I believe so !
"I believe that imagination is stronger than knowledge
that myth is more potent than history.
I believe that dreams are more powerful than facts
That hope always triumphs over experience
That laughter is the only cure for grief.
And I believe that love is stronger than death."
Robert L. Fulghum
27/10/07
25/10/07
Porque a Violência existe, Um Novo Rumo é preciso!
Segundo dados da Unicef, “no Mundo faltam cerca de 60 milhões de mulheres que foram abortadas por serem seres femininos, assassinadas quando bebés pelo mesmo motivo ou morreram vítimas de maus-tratos”.
Toda a violência física, sexual, psicológica e económica, quando continuada e exercida no contexto familiar ou numa relação íntima, é considerada Violência Doméstica.
Atinge, essencialmente, crianças, mulheres, idosas, deficientes ou doentes. A esmagadora maioria dos casos de violência, no entanto, recai essencialmente, de forma directa, sobre as mulheres. Mas mesmo nestes casos, em que a mulher é a única vítima directa, os filhos, familiares, amigos e sociedade envolvente acabam, também, indirectamente, por ser afectados.
Os Dados
Segundo dados da Unicef, “no Mundo faltam cerca de 60 milhões de mulheres que foram abortadas por serem seres femininos, assassinadas quando bebés pelo mesmo motivo ou morreram vítimas de maus-tratos”. Em 79 países, a violência contra as mulheres não é punida.
No contexto Europeu, apenas cinco por cento dos casos chegam à polícia, mas estima-se que uma em cada cinco mulheres seja agredida pelo parceiro masculino. Aliás, 25% de todos os crimes violentos registados na União Europeia foram cometidos por um homem contra a sua mulher ou companheira. Os dados tornam-se ainda mais catastróficos quando o Conselho da Europa, na Recomendação n.º 1582/2002, indica que “a violência contra as mulheres no espaço doméstico é a maior causa de morte e invalidez entre mulheres dos 16 aos 44 anos, ultrapassando o cancro, acidentes de viação e até a guerra”.
Em Portugal, no ano 2000, no âmbito do Projecto INOVAR, do Ministério da Administração Interna, a GNR e a PSP registaram 11765 queixas de violência doméstica. Sabe-se, no entanto, que a maioria das vítimas de violência, por motivos vários, não chegam a apresentar queixa. Dois anos depois, em 2002, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) revelou que foram denunciados mais de 18 mil crimes de violência doméstica, sendo que apenas foram apresentadas 6 mil queixas.
Mais recentemente, a 14 de Fevereiro de 2005, a Direcção Geral de Saúde estimou que cerca de 1 milhão de pessoas é afectada, directa ou indirectamente, pela Violência Doméstica.
Segundo dados do já referido Projecto INOVAR, nos distritos de Braga e Porto, em 2000, registaram-se 3188 queixas.
O Combate
No sentido de prevenir e punir a ocorrência de violência no seio familiar, Portugal tem dado passos concretos, ao longo dos anos, no que diz respeito ao processo legislativo. Assim, já em 1991, foi aprovada a Lei n.º 61/91 da Assembleia da República que “garante protecção adequada às mulheres vítimas de violência”. Mais tarde, em 1999, foi criada a “rede pública de casas de apoio a mulheres vítimas de violência”, através da Lei n.º 107/99, regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 323/2000, de 19 de Dezembro. Ainda no mesmo ano, foi aprovado “o regime aplicável ao adiantamento pelo Estado da indemnização devida às vítimas de violência conjugal”, através da Lei n.º 129/99.
O passo mais importante, no entanto, foi dado através da Lei n.º 7/2000, de 27 de Maio, reforçando as medidas de protecção a pessoas vítimas de violência ao proceder-se à alteração do Código Penal e do Código de Processo Penal. A mais significativa alteração operou-se no Artigo 152º do Código Penal, que passa a considerar o crime de maus-tratos como Crime Público. A sociedade civil pode e deve, a partir desta alteração, apresentar denúncia sempre que tiver conhecimento de um caso de violência doméstica ajudando, assim, a combater um dos maiores flagelos sociais da actualidade.
As queixas devem ser apresentadas às autoridades policiais e judiciais (GNR, PSP, Polícia Judiciária, Instituto Nacional de Medicina Legal, Ministério Público). As vítimas dispõem, ainda das linhas gratuitas da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (CIDM) – o 800202148, Serviço de Informação às Vítimas de Violência Doméstica – e da Segurança Social – 144, Linha Nacional de Emergência Social. Ambas funcionam 24 horas por dia, 7 dias por semana, e providenciam informação, acompanhamento e, se necessário, reencaminhamento das vítimas para outras instituições.
É importante, também, não esquecer a prestimosa ajuda de instituições privadas (Organizações Não Governamentais – ONG’s – e Instituições Particulares de Solidariedade Social – IPSS’s). Distribuindo-se por diferentes áreas, actuam nas áreas de informação, apoio psicológico, social e jurídico, acolhimento temporário das mulheres e filhos em casas abrigo, valorização pessoal e profissional, organização de pedidos de indemnização, etc.
Uma Sociedade Mais Activa
Hoje, mais do que nunca, o fenómeno da Violência Doméstica tem assumido uma enorme importância, não só porque a sociedade em geral está a tomar consciência desse flagelo social, mas, sobretudo, porque as vítimas estão a consciencializar-se de que estão a ser vítimas de um crime que não pode continuar a ser silenciado. Urge, cada vez mais, que todos tenhamos um papel interventivo na ajuda ao combate deste flagelo social. Se, isoladamente, todos temos uma palavra a dizer sobre esta problemática, ajudando, dessa forma, a combatê-la, juntos conseguiremos levar este combate muito mais longe.
por Patrícia Correia
(Responsável pelo Projecto Novo Rumo – para uma vida sem violência)
Foto de Annie Leibovitz
21/10/07
20/10/07
...variância e (im)probabilidade:Estatística do desejo.
era assim:
queres?
queres algo?
queres desejar?
desejas querer?
desejas-me?
desejas querer-me?
queres desejar-me?
queres querer-me?
queres que te deseje?
desejas que te queira?
queres que te queira?
quanto me
queres?
quanto me
desejas?
ah quanto te quero
quando te quero
quando me queres...
Ana Hatherly in "um calculador de improbabilidades"
16/10/07
...a Ti, Adriano Correia de Oliveira!
...e a Ti , Marta que eras apenas minha em potência e aprendeste, como poucos, a ouvi-lo e a cantá-lo.
14/10/07
08/10/07
...da vida em suspensão!
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!
Sophia de Mello Breyner Andresen in Antologia
07/10/07
...に一致するポルトガル語のページ 約
amo-te, gosto de ti, quero-te, preciso de ti
és linda, fantástica, uma ternura, um doce de pessoa
mas nenhuma se sobrepõe ao som das tuas palavras
quando me dizes bom-dia!
06/10/07
do sentido da Vida.(8)
Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.
Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...
Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...
Não perguntes, não sei - não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.
05/10/07
...exercitar é preciso!
É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem
É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora
Mário Cesariny - exercício espiritual
04/10/07
03/10/07
da subversão - O dar e receber...
do intercâmbio. Ofereço pouco para receber muito.
Basta-me falar para fazer actuar.
O rico é um homem a quem todos os pobres dão um cêntimo.
Paul Valéry in"Apontamentos.Arte, Literatura, Política & Outros"
01/10/07
30/09/07
...devagar , depressa foi Setembro!
devagar
setembro
entorna luz na planície
devagar
o vento
inventa choupos
e choupos
devagar
tornam-se rio
devagar cavalos surgem galopando
erguem brancas as cabeças
respiram verdes a claridade
E depois seguem
devagar
pelos túneis de luz
Daniel Maia-Pinto Rodrigues
in "O Afastamento Está Ali Sentado"
29/09/07
28/09/07
...dos Sentimentos e da (geo) Poesia.
Ela disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele disse: Sou um rio.
Ficaram em silêncio à janela
cada um à sua janela
olhando a sua cidade, o seu rio.
Ela disse: Não sou exactamente uma cidade.
Uma cidade é diferente de uma cidade
esquecida.
Ele disse: Sou um rio exacto.
Agora na varanda
cada um na sua varanda
pedindo: Um pouco de ar entre nós.
Ela disse: Escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
Ele disse: Eu corro.
De telefone preso entre o rosto e o ombro
para que ao menos se libertassem as mãos
cada um com as suas mãos libertas.
Ela temeu o adeus, disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele riu.
Filipa Leal in a "A Cidade Líquida e outras texturas"
24/09/07
22/09/07
...outras Significâncias!
AMIGO
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
20/09/07
(In)Significância(s)?
- Inveja
- do Lat. invidia
- s. f.,
- misto de pena e de raiva;
- misto de pena e de raiva;
- sentimento de desgosto pela prosperidade ou alegria de outrem;
- sentimento de desgosto pela prosperidade ou alegria de outrem;
- desejo de possuir aquilo que os outros possuem;
- desejo de possuir aquilo que os outros possuem;
- ciúme;
- ciúme;
- emulação, cobiça.
- do Lat. invidia
18/09/07
...os "ses" do(s) Outro(s)
Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.
Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!
Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!
E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento
António Botto
"Aves de Um Parque Real"
15/09/07
13/09/07
...e nada se perdeu em mim!
Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Pintura de Matisse
08/09/07
Significância(s)...
|
- s. f.,
- qualidade de afectivo;
- qualidade de afectivo;
- conjunto dos fenómenos afectivos;
- faculdade individual de experimentar ou ser afectado
- pelo prazer ou pela dor.
- s. f.,
02/09/07
...da Vida(9)
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
Eugénio de Andrade
Pintura de Turner
30/08/07
Gentilezas
A Rita, dos Livros e Outras Histórias teve a gentileza de me atribuir este "galardão"!
Obrigada!
Aqui fica o devido agradecimento...e nomeio Troblogdita, Anacruses,Ganda Chatice,Fantasias,Cita & Pense( internacional, claro!)*
*ver coluna das Ervilhas de Cheiro
29/08/07
Alteração de Programação...
Cada pessoa escreve sete factos casuais sobre a sua vida. Depois passa o desafio a outras sete, deixando um comentário no seu blogue para que essa pessoa saiba que foi desafiada.
Eu não sou muito(nada, a bem dizer!) dada a desafios deste gênero...mas pela alegria que, supostamente, se poderá transpor numa brincadeira destas aqui vai:
Detesto quando acordo tarde e tenho horários a cumprir( acho que tenho uma costela muito "british"!);
Não saio sem tomar uma boa chávena de café;
Nunca, nunca mesmo, me esqueço de levar a Kika a dar o passeio matinal;
A vida sem o aroma não me inspira...assim , nunca esqueço o meu "parfum" bem docinho e floral;
Sou louca por livros, música, anéis grandes( com pedras, sem pedras ...) e carteiras(ah! carteiras, malas, sacos grandes) canetas e caderninhos(qualquer tipo serve!) para poder escrever o que me passa pela alma , em qualquer lugar e a qualquer hora;
É raro não começar o dia a rir, de mim, da vida, dos desencontros..."uma tacha arreganhada"( é o que dizem!), e quando o sorriso não se lhe apetece instalar no meu rosto, até o porteiro pergunta se estou doente!
Conduzir, com música bem alto, fintando os revezes do trânsito é uma das muitas outras coisas que eu não dispenso...
e porque o interesse psico-cultural deste gênero de desafios pode, um dia, ser alvo de uma qualquer tese( quem sabe?) lanço o tema a quem sentir desejo de participar...
"mi casa es su casa"!
28/08/07
25/08/07
...a tua morte também o é !
Eduardo Prado Coelho -1944-2007
Impressiona-nos sempre a morte,
não por ser a morte de este ou de aquele,
mas por ela continuar a existir,
sendo objectivamente um escândalo.
Crónica publicada no jornal Público em 2006
24/08/07
...da Vida(8)
quantas vezes apostaste a tua vida?
apostei a minha vida mil vezes.
perdeste tudo?
sim , perdi sempre tudo.
José Luís Peixoto in "a criança em ruínas"
23/08/07
21/08/07
Poesia musical...
Jura que não vais ter uma aventura
Dessas que acontecem numa altura
E depois se desvanecem
Sem lembrança boa ou má
E por isso mesmo se esquecem
Jura que se tiveres uma aventura
Vais contar uma mentira
Com cuidado e com ternura
Vais fazer uma pintura
Com uma tinta qualquer
Que o ciúme é queimadura
Que faz o coração sofrer
Jura que não vais ter uma aventura
Porque eu hei-de estar sempre à altura
De saber
Que a solidão é dura
E o amor é uma fervura
Que a saudade não segura
E a razão não serena
Mas jura que se tiver de ser
Ao menos que valha a pena.
Letra de Carlos Tê (música de Rui Veloso)
Este (Sor)riso é para Ti!
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
do Sentido da Vida (7)
Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.
Lya Fett Luft in"Secreta Mirada"
19/08/07
do Sentido da Vida (6)
Com que adoço a amargura e embalo o pensamento:
Vagos clarões, vapor de perfumes dispersos,
Vidas que não têm vida, existências que invento;
Esplendor cedo morto, ânsia breve, universos
De pó, que o sopro espalha ao torvelim do vento,
Raios de sol, no oceano entre as águas imersos
-As palavras da fé vivem num só momento...
Mas as palavras más, as do ódio e do despeito,
O "não!" que desengana, o "nunca!" que alucina,
E as do aleive, em baldões, e as da mofa, em risadas,
Abrasam-nos o ouvido e entram-nos pelo peito:
Ficam no coração, numa inércia assassina,
Imóveis e imortais, como pedras geladas.
Olavo Bilac
18/08/07
17/08/07
...do(s) Sentido (s)da Vida(5)
quem é que te trouxe
grávida de esperança?
Um gosto de flor na boca.
Na pele e na roupa
perfumes de França.
Cabelos cor de viúva.
Cabelos de chuva.
Sapatos de tiras
e pões, quantas vezes
não queres e não amas
os homens que dormem
contigo na cama.
Amélia dos Olhos Doces
quem dera que fosses
apenas mulher.
Amélia dos Olhos Doces
se ao menos tivesses
direito a viver!
Amélia gaivota
amante ou poeta.
Rosa de café.
Amélia gaiata
do Bairro da Lata.
Do Cais do Sodré.
Tens um nome de navio.
Teu corpo é um rio
onde a sede corre.
Olhos Doces. Quem diria
que o amor nascia
onde Amélia morre?
Cabelos cor de viúva.
Cabelos de chuva.
Sapatos de tiras
e pões, quantas vezes
não queres e não amas
os homens que dormem
contigo na cama.
Joaquim Pessoa
16/08/07
das Coisas Simples(1)
e onde se dorme à noite o sono da infância.
Lar é onde se encontra a luz acesa quando se chega tarde.
Lar é onde os pequenos ruídos nos confortam:
um estalar de madeiras, um ranger de degraus,
um sussurrar de cortinas.
Lar é onde não se discute a posição dos quadros,
como se eles estivessem ali desde o princípio dos tempos.
Lar é onde a ponta desfiada do tapete, a mancha de
humidade no tecto, o pequeno defeito do caixilho, são
imutáveis como uma assinatura reconhecida.
Lar é onde os objectos têm vida própria e as paredes
nos contam histórias.
Lar é onde cheira a bolos, a canela, a caramelo.
Lar é onde nos amam.
Rosa Lobato de Faria in "O Sétimo Véu"
15/08/07
da Poesia e do Sentir
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Fernando Pessoa
14/08/07
...porque a Língua é a Nossa Pátria!-Guia de Visita
Se vosmecê não é da região, não fique cabreiro, visse!
Mas se é da terra, peleje,saculeje,futrique o tutano.
Se avexe para entender histórias de trilhas, sem lorota.
Da Costa Dourada, rodage supimpa de Recife a Maceió.
Pru mode não se empaiar, não vá com carro peba, fulero
Leve gorro, pisante, roscofe, trincha e encafue a riúna.
Junte os térens na trouxa e bote rudilha no quengo,
Pendure no gogó a berimbela amarrada ao trancelim.
Bote roupa fubenta, amarrotada, vá malabanhado.
Dispianque encangado com um pé quebrado esprivitado.
Pode ser cabaço ou quenga reboculosa e estar de paquete,
Sem ser nó cego, luxenta, alfenim, nem encrespar.
Tendo o xodó secura, xumbregue e derrube no fudedor.
Se estiver solteiro, vascuie as sirigaitas nas sipitingas.
Escolha potranca reboculosa, dando inveja a marmota.
Faça bafunga e munganga dela ficar zaroia e ter pilora.
O cabra tem que ser acochado, aloprado,não farrapar.
No mato bote sentido em lacrau,mangangá e potó.
Vigie as ribanceiras para não tibungar nos barreiros.
Nada de muxoxo, leve na gréia, pru mode desopilar.
Se o carro ficar ronceiro, dê barrufadas e oiça se raja.
Se dá pinotes ou cepa, nos mata-burros e bueiros,
Não se aperreie nem se abufele, mas não seja manzanza.
Tome cuidado nas rabiadas para não dar barroadas.
Prove lapada de caxixi, tacos de langanhos e malassada.
Tarecos e mata-fome nas toldas e pega-bebos dos aceiros.
Dando pirrita, se escafeda nas brenhas e tome cachete;
Descarregue a titica em toiceira de mato, sem rimungar.
Cuidado com baque que escalavra e ingembra o espinhaço.
Por derradeiro, o trilheiro fica grudento, seboso, lombado,
Com suvaqueira, pituim, inhaca, cheio de roncha e pereba,
Catota na venta, oios com ramelas, trunfa frocada e feliz.
"Minidicionário de Pernambuquês " de Bertrando Bernardino
Foto de Recife
Pernambuco
Poesia musical
Pra lhe falar
Mas com palavras
Nao sei dizer
Como é grande o meu amor por voce
E nao ha nada
Pra comparar
Para poder
Me explicar
Como é grande o meu amor por voce
Nem mesmo o céu
Nem as estrelas
Nem mesmo o mar
E o infinito
Nao é maior
Que o meu amor
Nem mais bonito
Me desespero
A procurar
Alguma forma
De lhe falar
Como é grande o meu amor por voce
Nunca se esqueca
Nem um segundo
Que eu tenho o amor
Maior do mundo
Como é grande o meu amor por voce
Nunca se esqueca
Nem um segundo
Que eu tenho o amor
Maior do mundo
Como é grande o meu amor por voce
Mas como é grande o meu amor por voce
Roberto Carlos
13/08/07
dos Sentidos dos Outros
É a um conceito nosso- em suma , é a nós mesmos- que amamos.
Bernardo Soares *in "Livro do Desassossego"
* heterónimo de Fernando Pessoa
Significância (s)
|
- coragem
- do Lat. cor, coração
- s. f.,
- firmeza de espírito, energia diante do perigo;
- firmeza de espírito, energia diante do perigo;
- intrepidez;
- intrepidez;
- ânimo;
- ânimo;
- valentia;
- valentia;
- perseverança.
- do Lat. cor, coração
12/08/07
em teu nome...Adolfo Correia da Rocha
Em nome do teu nome,
Todos os sentimentos recalcados
11/08/07
(in)Significância?
|
- paixão
- do Lat. passione, sofrimento
- s. f.,
- sentimento excessivo;
- sentimento excessivo;
- amor ardente;
- amor ardente;
- afecto violento;
- afecto violento;
- entusiasmo;
- entusiasmo;
- cólera;
- cólera;
- grande mágoa;
- grande mágoa;
- vício dominador;
- vício dominador;
- alucinação;
- alucinação;
- sofrimento intenso e prolongado;
- sofrimento intenso e prolongado;
- parcialidade;
- parcialidade;
- o martírio de Cristo ou dos Santos martirizados;
- o martírio de Cristo ou dos Santos martirizados;
- parte do Evangelho em que se narra a Paixão de Cristo;
- parte do Evangelho em que se narra a Paixão de Cristo;
- colorido, expressão viva, em literatura.
10/08/07
Significância...
|
- do Lat. amore
- s. m.,
- viva afeição que nos impele para o objecto dos nossos desejos;
- viva afeição que nos impele para o objecto dos nossos desejos;
- inclinação da alma e do coração;
- inclinação da alma e do coração;
- objecto da nossa afeição;
- objecto da nossa afeição;
- paixão;
- paixão;
- afecto;
- afecto;
- inclinação exclusiva;
- inclinação exclusiva;
- ant.,
- graça, mercê.
- com -: com muito gosto, com zelo;
- com -: com muito gosto, com zelo;
- fazer -: ter relações sexuais;
- fazer -: ter relações sexuais;
- loc. prep.,
- por - de: por causa de;
- por - de: por causa de;
- por - de Deus: por caridade;
- por - de Deus: por caridade;
- ter - à pele: ser prudente, não arriscar a vida;
- ter - à pele: ser prudente, não arriscar a vida;
- - captativo:vd. amor possessivo;
- - captativo:vd. amor possessivo;
- - conjugal: amor pelo qual as pessoas se unem pelas leis do matrimónio;
- - conjugal: amor pelo qual as pessoas se unem pelas leis do matrimónio;
- - oblativo: amor dedicado a outrem;
- - oblativo: amor dedicado a outrem;
- - platónico: intensa afeição que não inclui sentimentos carnais;
- - platónico: intensa afeição que não inclui sentimentos carnais;
- - possessivo: amor que leva a subjugar e monopolizar a pessoa que se ama; o m. q. amor captativo.
...
se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor.
Eugénio de Andrade
09/08/07
...da Impossibilidade do Amor
Gabriel Garcia Marquez in "Amor em tempos de cólera"
dos Sentimentos e da Poesia(outra vida)
Till the wet waves drenched face and hair with spray,
The long red fires of the dying day
Burned in the west; the wind piped drearily;
And to the land the clamorous gulls did flee:
"Alas!" I cried, "my life is full of pain,
And who can garner fruit or golden grain,
From these waste fields which travail ceaselessly!"
My nets gaped wide with many a break and flaw
Into the sea, and waited for the end.
When lo! a sudden glory! and I saw
The argent splendour of white limbs ascend,
And in that joy forgot my tortured past.
Oscar Wilde
08/08/07
...A Ti, Ruy Belo!
Nomeei-te no meio dos meus sonhos
chamei por ti na minha solidão
troquei o céu azul pelos teus olhos
e o meu sólido chão pelo teu amor
Ruy Belo
...à Noite!
A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"
Sérgio Godinho
05/08/07
04/08/07
03/08/07
...dos Sentidos dos Outros
"(...) muitas vezes, nossa jaula somos nós mesmos, que vivemos polindo as grades em vez de libertar-nos."
Pedro Bloch in "Entrevistas", colectânea de entrevistas realizadas por Clarice Lispector
02/08/07
dos Outros Escritores-Sentimentos
O que são vertigens? Medo de cair?
Mas então porque é que temos vertigens num miradoiro protegido com um parapeito?
As vertigens não são o medo de cair.
É a voz do vazio por debaixo de nós que nos enfeitiça e atrai,
o desejo de cair do qual, logo a seguir, nos protegemos com pavor."
Milan Kundera in "A Insustentável Leveza do Ser"
01/08/07
dos Sentimentos e da Poesia( em português)
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Cecília Meireles
31/07/07
30/07/07
29/07/07
27/07/07
26/07/07
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Raríssimas...sabe o que é?
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