Vivo sempre no presente.O futuro, não o conheço.O passado, já o não tenho.
Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada.
Não tenho esperanças nem saudades.
Conhecendo como tem sido a minha vida até hoje- tantas vezes e em tanto contrário do que eu a desejara- , que posso presumir da minha vida de amanhã senão que será o que não presumo, o que não quero, o que me acontece de fora, até através da minha vontade? Nem tenho nada no meu passado que relembre com o desejo inútil de o repetir.
Nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim.
O meu passado é tudo quanto não consegui ser.Nem as sensações de momentos idos me são saudosas:o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto
Bernardo Soares in "Livro do Desassossego II"
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